Cris M. Zanferrari
“Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos.”
É de trechos como esse, tocados por pequenos acordes de uma melodia existencial, que se extrai a força e a beleza da prosa poética de Cecília Meireles.
Cecília tem um olhar de pura ternura sobre as coisas, o mundo, a vida. Em cada uma das 45 crônicas integrantes de “Escolha o seu sonho” se encontra uma mesma doçura, uma mesma esperança alicerçada. Dos temas mais cotidianos ao seu breve encontro com Faulkner em um congresso, nada escapa ao olhar atento, reflexivo e poético de Cecília.
Mas que não se engane quem pensa que um olhar assim tão doce não comporta as mazelas do mundo. Cecília tudo vê, e parece até mesmo antecipar o tempo em que vivemos nós quando diz que toda a massa humana se julga detentora da razão e que de “tal abundância de razão é que se faz a loucura”, e por isso “a vocação das pessoas, hoje em dia, não é para o diálogo com ou sem palavras, mas a balas de diversos calibres.”
Sim, Cecília é atual, atualíssima, atemporal. E mesmo quando nos faz ver que “o demônio passeia pelo mundo, glorioso e impune”, jamais o faz sem deixar um rastro de afabilidade e esperança na raça humana porque, afinal, “É quase sempre assim: sobre uma adversidade, abre-se a flor da poesia.”
E se a literatura de Cecília nos ajuda a viver é precisamente porque alimenta em nós a capacidade de sonhar.
Escolha também você o seu sonho.
Escolha ler Cecília!